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Vereadores cariocas associam imagens a obras públicas na cidade para conquistar eleitores

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Atualizado: 19 de jun. de 2024

Os chamados “prefeitinhos” extrapolam as funções parlamentares e usam redes sociais para mostrar presença em projetos de caráter do Executivo.


Por Felipe Mitidieri, Klara Argento e Marcelo Nunis



Vereador Ulisses Marins em asfaltamento na Zona Norte do Rio. Foto: Ulisses Marins/Reprodução


Em ano de eleições, aumentam os casos de parlamentares que divulgam nas redes sociais conteúdos que mostram participações em obras públicas. Um exemplo ocorreu com o vereador Ulisses Marins, do Partido União. Ele fez postagens em que aparecia atuando em melhoramentos urbanos nos bairros  de Brás de Pina, Penha e Jardim América, na Zona Norte. Essa situação representa uma atuação indevida na esfera do Executivo com o objetivo de angariar votos e aumentar a popularidade.


A inauguração em abril do Parque Camorim, na Barra da Tijuca, na cidade do Rio de Janeiro, que pertence ao Programa Morar Carioca, também caracteriza o fenômeno crescente de utilização das redes sociais por políticos para manter o poder de influência local. O presidente da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, Carlo Caiado, do PSD, esteve presente no evento de inauguração, assim como outros parlamentares do mesmo partido. Caiado veiculou em redes sociais um discurso no qual elogia as obras e, além disso, acrescentou comentários de agradecimentos por parte de moradores da região. Nesse sentido, a midiatização dessas ações para a autopromoção transportou a política contemporânea a um novo cenário.


A partir dessa ótica, muitos vereadores extrapolam os papéis do Legislativo e passam a atuar diretamente em questões do Executivo. A maioria desses casos é representada por frequentes participações em obras públicas. A pavimentação e a iluminação de ruas, por exemplo, são algumas das ações em que os chamados “vereadores prefeitinhos” mostram-se fortemente presentes. Com isso, muitos adotam esse caráter assistencialista, principalmente em zonas mais carentes da cidade, com o objetivo de aumentar a aprovação, como a situação de Caiado. A cientista política Alessandra Maia comentou que os “prefeitinhos” também procuram atuar em regiões em que conseguiram um maior número de votos, para reforçar seu protagonismo.


Conteúdo das postagens


Os “prefeitinhos”, em grande parte das obras, vestem coletes, com slogans de referência própria. Além disso, assessores parlamentares realizam filmagens para passar a mensagem de que foram os próprios vereadores que atuaram nas obras. Em alguns vídeos, inclusive, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, está presente, como uma forma de demonstrar uma suposta parceria nas obras entre o parlamentar e o prefeito. Nas redes sociais, foram muito frequentes as postagens para construções de creches e escolas, e o asfaltamento de ruas e avenidas. 


- Em lugares onde o poder aquisitivo é muito baixo, existe uma oferta de políticas públicas que deveriam ser universalizadas. A pintura de escolas ou o asfaltamento de ruas, por exemplo, deveria acontecer de forma igual em toda a cidade, mas muitas vezes o vereador vai se comprometer a conseguir determinada obra para algum lugar que votou nele. Além disso, ele tenta negociar no Legislativo para que sejam aprovadas ações que vão de encontro ao que a sociedade deseja. Mas, quando não há recursos suficientes para todos os bairros, os vereadores representam alguma demanda específica.

 

O vereador Carlo Caiado, do PSD, ressalta que o dever de um parlamentar é mudar a vida da população através do trabalho. Para isso, ele cita algumas políticas públicas, como o sistema de transporte do BRT. Neste nicho, destacam-se as compras de novos ônibus, a reforma das estações, a construção de terminais e o novo modelo de bilhetagem que foram submetidos à aprovação da Câmara. Além disso, a fiscalização de obras, que é dever dos vereadores, é utilizada para se destacar nas redes sociais e conseguir, por meio do seu eleitorado, mais votos e longevidade política.


Efeito das redes sociais 


Desde que assumiu a presidência da Câmara dos Vereadores em 2021, Caiado implementou um novo canal de comunicação mais atualizado à população carioca e, assim, tornou público os acontecimentos da Casa Legislativa da cidade. As sessões e os boletins informativos diários das decisões tomadas pelo parlamento são transmitidos ao vivo. Nas redes sociais, ele divulga as agendas do seu dia a dia e vê esse instrumento de trabalho uma forma eficaz de que o cidadão conheça o seu desempenho.


Com isso, o uso das redes sociais para autopromoção é contínuo. A internet, hoje em dia, tem o poder de alcance jamais visto e, para ser ainda mais eficaz, exige uma boa dicção e falas simples e objetivas. Esses são os principais mecanismos para conquistar as visualizações desejadas e garantir reconhecimento na área de atuação. Os acontecimentos têm um poder maior no ambiente virtual, tanto para o aspecto positivo, quanto para o negativo. Neste caso, os vereadores aumentam o eleitorado por meio de vídeos postados. Desse modo, as publicações nas redes permitem uma aproximação entre o político e o eleitor.  


De acordo com o vereador Rafael Aloisio Freitas, também do PSD, a prefeitura não atua em alguns lugares específicos da cidade e, por isso, é importante que o vereador esteja atento às demandas do bairro. Então, o parlamentar, por meio de requerimento ao prefeito, solicita uma obra ou uma reforma em determinada localidade. Em obras em escolas, por exemplo, é preciso que se faça uma licitação. No caso de demandas rotineiras, como bueiros entupidos, reparos em encostas e sinalizações de vias, o requerimento ocorre por ofícios. Além disso, com frequência, há consultas em órgãos responsáveis, como a Comlurb, a Rio Águas e a CET-Rio.


Desinformação populacional


A interferência dos vereadores em obras públicas é potencializada pela desinformação da população a respeito dos papéis dos vereadores. A ignorância política por parte do povo abre margem para propagandas e campanhas eleitorais enganosas que visam a apenas a autopromoção dos candidatos. Nessa ótica, muitos cidadãos inclusive desconhecem suas opções de voto e tornam-se completamente alienados às funções dos vereadores na Câmara Municipal. 


Por fim, o fenômeno também é agravado pela ampla dimensão espacial e social da cidade. O Rio de Janeiro, por ser muito grande geograficamente e por abrigar milhões de habitantes em diferentes condições, é dividido em subprefeituras. Muitas vezes, as delimitações são administradas por vereadores de confiança da prefeitura. Essas administrações, enquadradas no poder executivo, não correspondem às funções originais dos vereadores e, não raro, contribuem para a formação dos “prefeitinhos”. 


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